sexta-feira, 30 de junho de 2017

ENTRE O BOM HUMOR E A CHATICE

No início do mês de junho, os alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma Escola de Novo Hamburgo, participaram de uma festa onde a temática era "se tudo der errado". A comemoração convidava os alunos a se fantasiarem com trajes de profissões ou atividades que considerariam como possibilidade, caso reprovassem no vestibular. Entre as opções elencadas pelos adolescentes estavam garis, atendentes de supermercado, vendedores, faxineiros, ambulantes, mecânicos, cozinheiros e por aí vai.
As críticas sobre esse episódio foram muitas e o fato ganhou repercussão nacional. Penso, a partir desse lugar que habita o meu sentipensar, que o grande problema da proposta desta festa não foram as “fantasias”, mas a ideia de que aquelas profissões fossem menos importantes que outras.
Percebo, no entanto, que as críticas sobre os eventos cotidianos tem, muitas vezes, se mostrado tão agressivas e raivosas que me pergunto para onde elas nos levam. Vivemos um tempo de muitas contradições. Inúmeros movimentos defendem com unhas e dentes os direitos de diferentes grupos humanos. Movimentos necessários, mas que ao defenderem seus ideais de forma agressiva, ampliam a exclusão social, trilhando um caminho contrário ao da inclusão que almejam, com argumentos muitas vezes rígidos e contraditórios.
O fato é que as pessoas estão mais agressivas e decretaram o fim do bom humor. Logo ele, o humor, que sempre foi espaço para crítica social, agora é tomado como ofensivo em qualquer dimensão. É claro que o humor vive na corda bamba de uma linha tênue, mas o filósofo alemão Friedrich Nietzsche disse certa vez que "a objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde. Tudo o que é absoluto pertence à patologia".
Estamos vivendo o tempo das muitas certezas, da razão absoluta e binária, da sisudez que beira a chatice. Estamos nos tornando chatos!! Do carnaval às festas juninas, tudo tem se tornado um grande problema social a ser discutido sem flexibilidade e nenhum diálogo. Vestir-se de caipira, usar peruca black power, turbante, pilcha, jaleco, nada mais pode!!
Penso que é preciso uma perspectiva mais ampla e amorosa para analisar o cotidiano. Nem toda brincadeira ou fantasia é utilizada para humilhar e desprezar o outro. Mas parece que todo mundo anda armado para se defender de tudo, o tempo todo. Não importa o contexto, ninguém quer saber. E nesse embalo o mundo vai ficando tão fragmentado e sem diálogo que vamos virar ilhas, sem possibilidade de acesso e comunicação com qualquer continente. Avançamos rapidamente rumo à agudização dessa patologia que se chama egocentrismo!!

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